MTBAdventure

Thursday, August 30, 2007

Caminho Françês a Santiago de Compostela

Este desafio foi lançado o ano passado após concluirmos o Caminho Português. Para o ano é o caminho francês e assim foi:

Dia 31/08/07 - Viagem

A viagem foi preparada durante alguns meses. Foi fundamental a informação de pessoas que já tinham realizado este caminho. Assim recolhemos e analisamos tudo, principalmente as distância e locais que teriamos que precorrer. Desde o inicio planeamos a nossa travessia para 1 semana o que levaria a um esforço adicional para percorrer cerca de 800 km. O treino de preparação foi ao habitualmente realizado onde apenas incidiu mais na bicicleta no ultimo mês.

Chegada a Coimbra B onde apanhamos o Sud-Express em direcção a Hendaye.

Com cerca de 1 mês de antecedencia apenas conseguimos comprar bilhetes em vagão T6 (Bilhete - 87 €) quando o nosso objectivo era o vagão T2. Um mal menor uma vez que outros aventureiros só arranjaram lugares sentados numa viagem de cerca de 11 horas durante a noite. Pelo menos conseguimos relaxar e dormir um pouco numa cama divida com a nossa bicicleta.




Dia 01/09/07



Após uma noite mal dormida saimos do Sud- Express em Hendaye e apanhamos o TGV (Bilhete 8.7 €) em direcção a Bayonne. Notou-se bem a diferença de conforto entre comboios. A viagem foi rápida e em menos de uma hora chegamos a Bayonne. Enquanto aguardavamos pelo comboio regional até St. Jean Pied de Port (cerca de 3 horas depois) aproveitamos para montar as bicicletas e todo o material necessario para a travessia. Ao planear a viagem cheguei a pensar na hipotese de levar a bicicleta rigida em vez da suspensão total. Ainda bem que mudei de ideias caso contrário não teria sido possivel atingir o ritmo que tivemos, principalmente nas descidas. Optamos por transportar algum peso numa mochila o que permitiu aliviar o peso transportado na traseira da bike. Assim o mau piso não se tornou um obstáculo.



Ainda tivemos opurtunidade para conhecer um pouco Bayonne pedalando pela margem do rio.






Dia 01/09/07 - St Jean Pied de Port - Roncevaux



Duração: 5:43:00

Velocidade Média: 11,5 km/h

Distância: 47,4 km

Ascendente: 1950 m




Finalmente chegamos ao local de partida. O entusiasmo era tão grande que até nem sentiamos o desgaste da viagem e noite mal dormida.


Local de acolhimento aos perigrinos em St. Jean Pied de Port onde nos deram informação sobre o percurso e altimetria do mesmo. O "simbolo" do perigrino, a vieira, ou também conhecida como concha lá estava. Em troca de uma oferta trouxemos uma que colocamos nas bicicletas.


Eram cerca de três da tarde quando arrancamos para a nossa viagem, rumo aos pirineus.


As paisagens que encontramos são indescritiveis e algumas subidas tanbém. Estavamos à espera de pior mas na verdade a maior parte da subida é feita por estrada mas deu para suar devido à forte inclinação.



Ainda à pouco tinhamos almoçado e já pensavamos no jantar :). Bom, talvez seja do local e das pastagens mas nunca tinha visto porcos tão grandes.


De facto é impressionante. Aqui está um bom exemplo do que tinhamos que subir.




Quando atingimos o topo fomos apanhados por uma mudança subita no clima de tal modo que tivemos que vestir os impermeaveis.




Aqui iniciamos a alucinante descida. Por entre a vegetação existia um estradão largo que convidava à velocidade.


Chegada a Roncevaux. Como o albergue municipal estava cheio (facto que iriamos encontrar em vários dias) acabamos por procurar alojamento no parque de campismo de Burgete.





Dia 02/09/07 - Burgete - los Arcos

Duração 10:33:00
Velocidade Média 14,9 km/h
Distância 110,3 km
Ascendente 2200 m


Pequeno almoço em Burgete

A manhã estava muito fria. Também era normal dada a hora em que começávamos a pedalar. O despertador tocava as 06h30m.

Sinalização pelo percurso. Não há possibilidade de enganos. Todo o caminho esta devidamente marcado e em alguns locais até demasiado. Vê-se setas amarelas por todo o lado.



Ponte à entrada de Villava Atarrabia.


Catedral Santa Maria la Real.


Posto de turismo de Navarra. Mais um dos locais onde pedimos informações e carimbamos a credencial de peregrino.


A caminho do Alto do Perdon.


Já na parte final da subida acentuada. Mais duro sem duvida para os perigrinos a pé. Na imagem um em dificuldades em colocar a pesada mochila. Normalmente para quem faz este percurso a pé são necessários aproximadamente 25 dias a caminhar o que não deve ser nada fácil devido ao esforço acumulado.


Finalmente cá em cima. O vento que se fazia sentir ajudou a refrescar o calor sentido durante a subida Já era cerca do meio dia e também altura de encher a barriga.

E assim foi… Um valente prato de esparguete à bolonhesa … As refeições tornaram-se um ritual sagrado e não poupávamos neste sentido. Em alguns dias almuçamos duas vezes tendo sempre em conta os lanches durante o caminho. Era fundamental alimentarmo-nos bem… e claro… em quantidade…


Igreja de San Juan Bautista. Na verdade perdemos a conta da quantidade de igrejas e catedrais que passamos. Foram muitas e cada uma com o seu estilo particular. Por varias vezes o caminho saia da direcção normal só para nos levar a visitar uma igreja.


Um túnel que atravessamos durante o caminho. Um contraste interessante devido a luz do dia que entrava por uma abertura no mesmo.


Chegada a Los Arcos. Já no final do dia como era habitual fomos ao encontro do albergue municipal, que conforme esperávamos estava cheio. Tivemos que procurar alojamento num albergue privado. Existe sempre alternativa mas sem duvida que o ideal é chegar cedo, por volta do meio da tarde para conseguir lugar. Também é sempre dada prioridade aos peregrinos que fazem o percurso a pé o que se entende.


Dia 03/09/07 - Los Arcos – Burgos


Duração 12:14:00

Velocidade Média 17,7 km/h

Distância 147,4 km

Ascendente 2150 m



Entrada em Sansol

Encontra-mos o perigrino Marcelino durante o caminho. Na altura falou-mos da sua passagem por Portugal mas só reconheci quem era no dia a seguir quando a o entrar num café vi uma quadro com a foto em baixo. Assim é outra coisa… Relembro bem a reportagem que passou na RTP sobre este peregrino.

Após o carimbo seguimos viagem (De todos os carimbos que temos na nossa credencial este é sem duvida o mais interessante, vejam no final… é inconfundível).


Neste dia já começávamos a ver o contraste das vinhas com o imensos campos de cereais.


Impressionante a foram como empilham os fardos. Uma só máquina corta, embala e empilha o feno. Por várias vezes senti vontade de “bater uma sesta” cima de um deles.

Simplesmente fantástico…



Junto a uma sinalética que indicava as distâncias até Santiago. Ainda me lembro de comentar na altura:… ainda falta bué para Santiago.


Já no final do dia tivemos que trepar um pequeno monte, já muito perto da chegada. Já me sentia um pouco cansado e estas pedras na subida obrigaram-me a desmontar… Se assim não fosse acabaria por fazê-lo na mesma para esta foto.

















Ninguém se perde no caminho… se não houver forma de pintar as setas elas estarão no chão.


Finalmente chegamos… Ao fim de alguns minutos a pedalar pelo centro da cidade encontramos a catedral de Burgos que marcou o final do dia.



Dia 04/09/07 – Burgos – Léon


Duração 11:01:00
Velocidade Média 23,0 km/h
Distância 173,7 km
Ascendente 1160 m


Este dia foi o mais longo de todos. Longo nas primeiras horas da manha ficamos com a ideia que seria um percurso muito rolante o que acabou por se verificar. Para ajudar os imensos km de estradão que percorremos não tinham muita pedra sendo fácil atingir médias elevadas.





A paisagem era lindíssima… Imensos campos de cereais… O beje e o azul dominaram a paisagem até ao final do dia.


Aproximação a El Puntido.


Só pensávamos… É para trepar aquilo? Ufa… Não foi necessário… mas logo a seguir tivemos que trepar um ainda mais alto.


Já a meio da subida desci da bike para a empurrar. Já começava a pensar em “poupar” o traseiro. Já tínhamos cerca de 400 km e começava a custar estar tantas horas em cima do selim.


Pedalamos juntos com um espanhol durante algumas horas. Mas nas descidas não dávamos hipótese devido à suspensão total e por levar-mos o mínimo de carga. Até custou acreditar quando ele comentou que transportava cerca de 11kg na bike? Nós tínhamos cerca de 7 Kg e havia coisas que poderíamos ter dispensado.


Sempre a dar gás… A rolar a cerca de 30 – 35 km/hora. O ritmo era forte e a paisagem ajudava a ignorar o esforço acumulado. Na verdade a paisagem era de tal forma constante que pedalávamos várias horas seguidas sem quase darmos por isso. Despertávamos quando a barriga começava a pedir combustível. Quando parávamos olhava para o Polar e já tínhamos feito mais umas dezenas de km. Este dia fez-me ter noção das capacidades do nosso corpo. O cançasso era muito a após as paragens as primeiras pedaladas custavam imenso. O desconforto do selim era cada vez maior e mesmo assim conseguimos ter uma andamento forte. Muito treino e muito espírito de sacrifício é fundamental.


Os km finais foram uma dádiva. Pouca altimetria e estradas com rectas intermináveis.


Hehehe…Fonte? Qual fonte? Não!... era uma piscina… A água estava gelada, até “doía os ossos” mas foi revitalizante. Só mais cerca de 10 km para o final da etapa.


Finalmente o albuerge de Leon. O jantar foi reforçado, entrada, 1 e 2 prato e sobremesa. A acompanhar uma boa garrafa de tinto. Cheio como um pipo foi hora de dormir. Também era a rotina diária. Chegávamos aos albergues sempre por volta das 19 horas. Tomávamos o duche, preparávamos as coisas para o dia seguinte e íamos jantar. No final já era tarde e também a vontade de relaxar era muita. Aqui conhecemos um brasileiro que estava a fazer o caminho. Foi obrigado a ir dormir para outro quarto pois o gajo não ressonava, … gritava mesmo… Até sentia o beliche a vibrar…




Dia 05/09/07 – Léon – Cacabelos

Duração 10:02:00
Velocidade Média 18,0 km/h
Distância 117,4 km
Ascendente 1435 m



Começamos o dia com 9º C. Estava mesmo muito frio. Depois de uma “tostada” para peno almoço seguimos caminho.


Facilmente fizemos muitos km. O piso era bom e acima de tudo estávamos entusiasmados. Vamos subir à Cruz de Ferro. Todos o pessoal que já fez o caminho fala na cruz de ferro. È um local mítico e queríamos perceber porquê. Também nos disseram que subia muito para lá chegar.



Peregrinos no caminho. Mais uma vez: “Buen camino”


Paramos em Astorga para almoçar. Lindíssimo. Adorei a cidade. Enchemos a barriga numa esplanada desta praça. Nesta altura já me tinha convertido ao bocadilho de tortilha de patatas.


Com combustível para mais uma série de km chegamos ao inicio da subida para a Cruz de Ferro. Nada alarmante e até com facilidade subimos tudo sem desmontar. Este dia tornou-se muito diferente do anterior principalmente pela paisagem. O verde dominava.


Segundo conta a história cada perigrino transporta desde a base da subida uma pedra deixando-a junto a Cruz de Ferr0. Este é o cenário actual. Não sei não… mas vi lá algumas pedras que dificilmente alguém pegava nelas.


Descida do monte da cruz de pedra. Lindíssimo, na imagem a aldeia de Acebo que surgiu do nada. Adorei. O percurso era muito técnico mas a suspensões das bikes permitiram descer a dar gás. Estava era sempre atento a ver quando é que o saco cama ia saltar do alforge traseiro.


Chegada a Molinaseca. Aquela esplanada e um mergulho no rio vinham mesmo a calhar mas o tempo era curto. Grande parte dos perigrinos que fazem o percurso a pé terminam a sua caminhada diária a meio da tarde podendo assim desfrutar um pouco destes oásis.


Já no final da descida.


Castelo dos Templarios - Ponferrada

Albergue de Cacabelos. O melhor de todos os que visitamos. Quartos de 2 camas com óptimas condições. No exterior com uma agradável área de lazer.


Dia 05/09/07 – Cacabelos – PortoMarin

Duração 10:11:00
Velocidade Média 14,9 km/h
Distância 104,8 km
Ascendente 2150 m



O início do dia foi a pedalar ao longo de uma via pedonal paralela à estrada.


Passamos por muitos peregrinos. Mais uma vez assobiei para eles nos darem passagem. Quem não souber assobiar é melhor levar uma campainha. Por vezes vemos alguns grupos de peregrinos a ocuparem a via toda. Assim, ouvem e dão-nos passagem.


Já com cerca de duas horas a pedalar esta padaria foi um oásis. Estava muito frio, mas mal entramos sentimos o quentinho e o cheiro a pão acabado de cozer. Aproveitamos para tomar o segundo pequeno almoço.


De facto estava frio. Mesmo com o impermeável estava todo encolhido. Já de seguida iríamos aquecer… :)


Cá estava… a pior subida de todo o percurso. Não só pela inclinação mas acima de tudo pela pedra existente. Grande parte foi a empurra a bike. E custou muito. Empurrar a bike e carga (20 kg) foi dose, ainda por cima qual dei por ela que algures durante a subida perdi os óculos de sol. Deve ter sido quando tirei o capacete devido ao muito calor que sentia. Em volta para baixo outra vez. Felizmente s+o desci cerca de 300 m pois vinha um casal de peregrinos com eles. Ufa… Valeu… Agora toca a subir outra vez. Nessa altura já devia o Hugo estar lá em cima pensava eu.


Sim, de facto estava lá em cima mas só depois vi que ainda faltavam 4 km (canto inferior direito da foto). Pois ele deve ter parado mal viu o letreiro de massagem oriental.



O Cebreiro estava conquistado.


Alto de San Roque


Descida alucinante...


Ao fim de vários dias sem fazer a barba já poderia passar por arrumador.


Enfim... Portomarin.


Este final de dia trouxe um pouco de nostalgia... Por um lado algum alivio por faltarem apenas cerca de 90 km para Santiago, por outro a travessia estava a chegar ao fim.



Dia 06/09/07 – PortoMarin – Santiago de Compostela



Duração 6:47:00
Velocidade Média 16,6 km/h
Distância 91,3 km
Ascendente 1615 m




Talvez por ser o ultimo dia a pedalar acordamos com muito mau tempo. O nevoeiro era muito e o frio também.


Mas tão perto do fim ganhamos ânimo e começamos a rolar forte para tentar chegar a Santiago à hora de almoço. Assim poderias apanhar os vários comboios e conseguir chegar ao Porto no final do presente dia.


O percurso ajudou... o mal o sol levantou, tiramos os impermeáveis e começamos a pedalar à bruta.




Com o calor que se fazia sentir e devido às poucas fontes que existiam no percurso passamos alguma sede. Eu acabei até por ter que comprar água, algo que não tinha feito desde o início da travessia. Nos ultimos 40 km apareceram 1 ou 2 fontes. Não estavamos nada habituados a isso. Só no primeiro dia colocamos água no Camel Bak pois verificamos que a quantidade de fontes era tal que bastava encher o cantil. Só estes ultimos km fugiram à regra.


Felizmente os inumeros km de estradão eram acompanhados por alguma sombra. Foi sempre a sprintar e a assobiar para os pedestres se arrumarem.


Santiago é já alí...


Monte do Gozo, a ultima referência antes de Santiago.


Finalmente chegamos... Mais uma vez inteiros mas doridos. As bikes estiveram à altura e só tivemos um furo. Desta vez chegamos a horas de receber a compostela.



Tempo total: 66h31m (incluindo paragens)

Distância total: 793 km

Altimetria total: 12660 m



A nossa credencial.


Um agradecimento especial à Filomena Gomes e ao Brandão que nos forneceram informação preciosa sobre o caminho. Desta forma todo o planeamento se tornou mais fácil.



Esta é mais uma aventura que não dá para esquecer. Durante o percurso ponderei várias vezes o esforço diário para esta travessia e por vezes a vontade de parar surgia, mas de facto, as dores passam e a memória fica...

E para o ano, o caminho do Norte?